A EMISSÃO VIOLENTA
A pessoa que produz e emite comportamentos violentos, o emissor é por
excelência, e deve ser, estudado pela Medicina da Violência. O emissor pode
produzir e difundir comportamentos violentos auto ou heterodirigidos. A política
da violência procura encarar o emissor de violência como alguém que pretende
dominar, exercer numa relação de poder, controlo e domínio sobre o receptor
dessa violência; esta perspectiva poderia ter alguma lógica para a violência
heterodirigida mas não faz qualquer sentido na autodireccionada; de facto, uma
pessoa que se autoagride podendo chegar ao suicídio, certamente não quer
exercer domínio sobre si própria, inclusivamente anulando-se. Do ponto de vista
psicofisiopatológico, vários dos mecanismos que conduzem a autoviolência são
comuns aos da violência heterodirigida, é pois fundamental uma disciplina capaz
de estudar, compreender e controlar a violência centrando-se em quem a emite e
não em quem a recebe, essa disciplina é a Medicina da Violência. Apesar de se
reconhecer a multicausalidade, a multifactorialidade da violência, que se pode
indexar e agrupar aos elementos da comunicação (emissor, receptor, mensagem,
código, contexto e contacto ou canal), também se aceita que controlar a sua
emissão é, por excelência, a forma de a erradicar; não apenas isolando e
prendendo o seu emissor, mas também alterando a sequência de acontecimentos
causais que, no interior deste, vão finalmente provocar emissão de comportamento
agressivo e violento. Para a Medicina da Violência esta surge, em quem a emite,
por semelhança com as outras doenças, como um sintoma ou sinal de uma patologia
mórbida, como uma alteração patológica no interior do emissor cujas
manifestações clínicas se traduzem em actos violentos. Numa primeira fase, numa
primeira abordagem, a violência tem de ser travada, tem de ser contida, se
necessário pelo uso da força; posteriormente deve ser tratada, se possível pela
adesão voluntária do emissor, de outro modo o tratamento será coercivo. A
abordagem da violência centrada no seu emissor é um património da Medicina da
Violência.