História Clínica da Violência
Considerar
a violência como um aspecto semiológico de uma perturbação patológica significa
uma abordagem clínica do emissor dessa violência. Pela abordagem clínica
torna-se fundamental a realização de uma História Clínica mas também os
registos dos dados pelo método: Subjectivo, Objectivo, Avaliação e Plano
frequentemente considerando os Problemas Activos e Passivos assim como o Motivo
de Consulta (patente e latente) associados a todas as outras metodologias
desenvolvidas para uma melhor prática clínica.
- Na
história da violência actual e respectivos dados anamnésicos, é importante
descrever e caracterizar a respectiva semiologia com o tipo de violência
(física, psíquica, social) e se esta é impulsiva ou programada; se é auto ou
heterodirigida contra uma ou várias pessoas, na família, no trabalho, no lazer
ou outros; quando começou a violência actual e como tem evoluído; com que
frequência é exercida e em que situações; os factores que a exacerbam e os que
a atenuam; os factores acompanhantes como sentimentos de pesar e pena por
exercer violência ou emoções de prazer e satisfação com elação do humor e
sensação de poder pessoal associado ao exercício da violência, o uso de
símbolos violentos, as fantasias e conversas sobre violência. Enfim, a
caracterização completa e exaustiva da história da violência actual permite
dirigir a marcha diagnóstica para um melhor enquadramento clínico e instituição
de tratamento adequado.
- Na
história pregressa e familiar da violência são de caracterizar aspectos como a
idade em que o emissor começou a ser violento e como evoluiu ao longo do tempo;
as formas preferenciais e mais frequentes de comportamento violento; os grupos
sociais violentos a que tenha pertencido ou colaborado; os incidentes com a polícia
(por causa de violência) e antecedentes de detenção em estabelecimento
prisional; a presença de violência na família de origem e ascendentes e se o
próprio emissor foi sujeito a violência na família, na infância, na escola e ao
longo da vida; enfim todos os aspectos que melhor caracterizem a história
passada de violência desse emissor em concreto.
- Na
revisão por órgãos e sistemas procura-se sistematicamente por várias doenças
assim como medicações e outros que possam causar ou atenuar comportamentos
violentos.
- No
exame objectivo procuram-se, entre muitos outros, aspectos como marcas
anteriores de violência sofrida, por exemplo, cicatrizes de facadas ou de armas
de fogo; acontecimentos vitais e inesquecíveis relacionados com violência
mental; armas ou outros instrumentos de violência que o emissor use ou tenha
guardado.
- A
dinâmica da história clínica da violência prossegue pelos aspectos relacionados
com o diagnóstico, terapêutica, evolução e prognóstico numa aplicação típica do
método clínico às pessoas emissoras de violência.
A EMISSÃO VIOLENTA
A pessoa que produz e emite comportamentos violentos, o emissor é por
excelência, e deve ser, estudado pela Medicina da Violência. O emissor pode
produzir e difundir comportamentos violentos auto ou heterodirigidos. A política
da violência procura encarar o emissor de violência como alguém que pretende
dominar, exercer numa relação de poder, controlo e domínio sobre o receptor
dessa violência; esta perspectiva poderia ter alguma lógica para a violência
heterodirigida mas não faz qualquer sentido na autodireccionada; de facto, uma
pessoa que se autoagride podendo chegar ao suicídio, certamente não quer
exercer domínio sobre si própria, inclusivamente anulando-se. Do ponto de vista
psicofisiopatológico, vários dos mecanismos que conduzem a autoviolência são
comuns aos da violência heterodirigida, é pois fundamental uma disciplina capaz
de estudar, compreender e controlar a violência centrando-se em quem a emite e
não em quem a recebe, essa disciplina é a Medicina da Violência. Apesar de se
reconhecer a multicausalidade, a multifactorialidade da violência, que se pode
indexar e agrupar aos elementos da comunicação (emissor, receptor, mensagem,
código, contexto e contacto ou canal), também se aceita que controlar a sua
emissão é, por excelência, a forma de a erradicar; não apenas isolando e
prendendo o seu emissor, mas também alterando a sequência de acontecimentos
causais que, no interior deste, vão finalmente provocar emissão de comportamento
agressivo e violento. Para a Medicina da Violência esta surge, em quem a emite,
por semelhança com as outras doenças, como um sintoma ou sinal de uma patologia
mórbida, como uma alteração patológica no interior do emissor cujas
manifestações clínicas se traduzem em actos violentos. Numa primeira fase, numa
primeira abordagem, a violência tem de ser travada, tem de ser contida, se
necessário pelo uso da força; posteriormente deve ser tratada, se possível pela
adesão voluntária do emissor, de outro modo o tratamento será coercivo. A
abordagem da violência centrada no seu emissor é um património da Medicina da
Violência.
A MENSAGEM VIOLENTA É A VIOLÊNCIA DA MENSAGEM
Qualquer mensagem violenta
comporta em si duas componentes indissociáveis: o significante que é o suporte
físico capaz de causar dano e o significado que é o dano ou valor retirado ao
receptor da mensagem. Sem estas duas componentes, não há mensagem, não há
violência de mensagem. O suporte físico do dano a causar, deve ser apropriado
pois, de outro modo verifica-se uma distorção da comunicação violenta. O
emissor da mensagem violenta, tem de conceber a ideia de que com o significante, ou seja, o suporte físico
inerente á mensagem violenta, que vai emitir; consegue no receptor um
significado, dano ou a perca de valor préviamente planeada. Sem isso, não há
mensagem, não há violência. Por exemplo, se um marido coloca a mão na face de
sua esposa a fim de lhe fazer uma caricia e ela se queixa que foi magoada: Que
pode ter acontecido? O marido, reconhecendo na sua mão o significante,
desconhece o significado de que por a esposa ter uma abcesso dentário está mais
sensivel e ficará magoada. A esposa terá que conceber no gesto do marido a intenção da a magoar. As distorções comunicacionais ao nível da mensagem são
muito frequentes. A intersubjectividade do sujeito e do objecto, ou seja, do
emissor e do receptor, são os principais factores de erro ao nivel da mensagem
violenta. De facto, qualquer pessoa tem um mundo interior impossível de
conhecer na sua totalidade. É a mensagem violenta que quando emitida, causa a
violência da mensagem.
CONTACTO VIOLENTO
Contacto violento refere-se ao canal usado
para propagar a violência. Quando a próximidade permite, a violência pode ser
usada directamente pelo contacto físico corporal directo ou com instrumentos
que amplificam o dano causado. Nos casos de violência verbal ou sensorial, o
canal permite a propagação de ondas sonoras ou elecromagnéticas, com palavras,
gestos ou atitudes corporais, que magoam e ferem. Para grandes distâncias são,
habitualmente, usados outros instrumentos ou canais de propagação da violência.
Paradigmaticamente, na guerra, pensamos nos mísseis. No entanto, a longas
distâncias, o canal pode corresponder a uma simples carta escrita, um
telefonema, um email, etc. enfim, todos com conteúdos capazes de causar dano,
ofensa e sofrimento. Os meios de comunicação de massa, unidirecionais, como os
jornais e revistas, as rádios e televisões, constituem actualmente os maiores
agressores mentais a que as pessoas estão sujeitas. De facto, estes meios difundem
constantemente, ameaças camufladas, como se fosse informação positiva. Qualquer
pessoa que páre de lêr jornais e revistas, de ouvir rádio e vêr televisão, por
uns tempos; que apenas os consulte esporádicamente, vai-se sentir muito mais
feliz. Estes meios, de propagação unidirecional da violência, difundem ameaças
camufladas que geram medo e sofrimento. Também a violência do estado, sobre o
cidadão, se faz sentir, primeiro pelas ameaças camufladas nos meios de comunicação
social, depois pela violência física exercida pelas forças policiais e
militares. Quem controlar o canal de comunicação violenta, controla a violência
que sofre ou provoca. Interromper o contacto ou canal de comunicação é
interromper a violência sofrida.
CÓDIGO VIOLENTO
Para que haja violência não é bastante que algo cause dano. Por exemplo se uma pessoa caminhar num passeio público e uma árvore lhe cair em cima e a matar, não se diz que essa árvore exerceu violência sobre a pessoa. Para que se verifique violência é necessário que o emissor e o receptor dessa violência tenham um código comum; isto é, uma linguagem ou regras de entendimento sobre o que é considerado violência, assim como os demais conceitos relativos ao assunto. É por isso que as associações sociais, com carácter politico, ditas contra a violência, estão permanentemente a defenir conceitos e regras de comunicação sobre o que entendem por violência, seja: comportamentos violêntos como palavras, gestos e modos de acção etc. mas vão mais longe ao integrar noções de violência financeira, económica, psicológica,... depois tentam também defenir o que é uma vitima, um agressor, enfim todo um conjunto de conceitos e regras de comunicação codificadas e sem as quais não seria possível falar de violência. Virtualmente pode-se afirmar, categóricamente, que essas associações são as maiores produtoras de violência, que se pode encontrar numa comunidade. Sem o código, conceitos e regras de comunicação, por essas associações criados e difundidos nos meios de comunicação; sem a doutrinação a que sucessivamente a comunidade está exposta, não existiria violência na comunidade. Naturalmente poderia existir um problema a resolver; ou seja, se uma árvore cair num passeio público, e magoar uma pessoa que ia nesse momento a passar, temos um problema a resolver, mas o modo de o resolver é mais objectivo, não está ofuscado pelo código, conceitos e regras de uma comunicação associada á linguagem da violência.
O código da violência, como tudo na vida, toma dialectos e até microdialectos familiares ou mesmo dos casais ou parelhas. Na linguagem das feministas defensoras da criminalização da violência diria-se que, se uma mulher sabe que o seu marido, namorado ou companheiro tem ciúmes; se essa mulher sabe exactamente em que situações o seu par fica com ciúmes e, mesmo assim, procura essas situações para lhe causar ciúmes, pois essa mulher está a cometer um crime de violência por maus tractos psicológicos e pelo sofrimento que assim, causa ao marido ou companheiro.
O código da violência, como tudo na vida, toma dialectos e até microdialectos familiares ou mesmo dos casais ou parelhas. Na linguagem das feministas defensoras da criminalização da violência diria-se que, se uma mulher sabe que o seu marido, namorado ou companheiro tem ciúmes; se essa mulher sabe exactamente em que situações o seu par fica com ciúmes e, mesmo assim, procura essas situações para lhe causar ciúmes, pois essa mulher está a cometer um crime de violência por maus tractos psicológicos e pelo sofrimento que assim, causa ao marido ou companheiro.
O CONTEXTO DA VIOLÊNCIA
Quanto aos contextos em que a violência surge, esta pode ser classificada em várias categorias: violência urbana, em ambiente rural, na familia, no trabalho, na escola, nos grupos recreativos e politicos etc.
Todas as pessoas são violentas, o que varia é o modo de exprimir essa violência e o contexto dessa expressão. Uma mulher que ocupe cargos de chefia, pode ser extremamente violenta para com os seus subordinados, no local de trabalho, e depois em casa, no ambiente familiar, mostrar-se dócil e subserviente para com o marido.
Parece que, a percentagem de pessoas violêntas, se tem mantido ao longo da história da humanidade; pelo que a concentração de pessoas nos meios urbanos leva a uma concentração da violência que, por intermédio de grupos e bandos organizados, se amplifica intensamente com maior poder destrutivo.
No próprio ambiente do agregado familiar, parece que, em relação com o numero de pessoas, quanto menores dimensões tem a habitação, maior a propensão à violência familiar. Isto é, o contacto interpessoal, forçado e involuntário que é estabelecido, no seio do agregado, proporciona situações de violência intra familiar.
Somos assim, levados a pensar no binómio entre o emissor da violência e o ambiente que estimula e provoca a emissão dessa mesma violência.
Todas as pessoas são violentas, o que varia é o modo de exprimir essa violência e o contexto dessa expressão. Uma mulher que ocupe cargos de chefia, pode ser extremamente violenta para com os seus subordinados, no local de trabalho, e depois em casa, no ambiente familiar, mostrar-se dócil e subserviente para com o marido.
Parece que, a percentagem de pessoas violêntas, se tem mantido ao longo da história da humanidade; pelo que a concentração de pessoas nos meios urbanos leva a uma concentração da violência que, por intermédio de grupos e bandos organizados, se amplifica intensamente com maior poder destrutivo.
No próprio ambiente do agregado familiar, parece que, em relação com o numero de pessoas, quanto menores dimensões tem a habitação, maior a propensão à violência familiar. Isto é, o contacto interpessoal, forçado e involuntário que é estabelecido, no seio do agregado, proporciona situações de violência intra familiar.
Somos assim, levados a pensar no binómio entre o emissor da violência e o ambiente que estimula e provoca a emissão dessa mesma violência.
ABORDAGEM POLITICA DA VIOLÊNCIA
Actualmente a concepção da relação violenta que, nesta matéria, monopoliza todo o pensamento humano, centraliza-se no receptor dessa violência. Esta abordagem da violência, tem as suas origens no pensamento político. Efectivamente os políticos, dirigem-se aos receptores das suas mensagens, com a finalidade de os influênciar e coagir, isto é, fazem apelo ao voto ou, já no poder, usam da força conativa da vontade pessoal para coagir as pessoas.
Naturalmente os comportamentos e acções violentas centrados no receptor são exercidos por todas as pessoas cujo objectivo é mudar o comportamento alheio. Assim, além da propaganda e acção politica, também as actividades comerciais dirigidas ao consumo e as activistas relacionadas com os direitos das vitimas, são uma forma de violência, já que causam necessidades e insatisfações que de outro modo não seriam sentidas. A análise politica da violencia resulta de as analistas serem sempre lideres de movimentos sociais, com o objectivo de atingirem o poder poilitico; assim, elas próprias projectam os seus sentimentos e desejos escondidos de alcaçar o poder, nos emissores de respostas violentas, e desconsideram as outras formas de abordar a violência. Estas pessoas estão também muito habituadas a usar a violência social e pressões de toda a ordem para alcançar a liderança e supremancia e, por isso, apenas consideram o uso da violência, como forma de exercicio de poder sobra a vitima. Usam a violência para combater a violência e entram, assim, num circuito fechado e amplificador dos comportamentos violêntos. De facto, ainda que o estado, como comunidade politicamente organizada, se autolegitime no uso da violência; esta só pode ter a sua expressão quando usada por pessoas. As pessoas que executam a violência organizada do estado contra o cidadão são, elas próprias, violentas.
Não é por a violência, dos grupos organizados em associações, partidos, etc., constantemente propagandeada nos meios de comunicação social, ser praticada com a conivência do estado, que esta deixa de causar dano e sofrimento aos cidadãos, vitimizados. Por outro lado quem, lider de organizações sociais, com a permissão do estado, pratica a violência, sublima a sua atitude agressiva de tal ordem que, acredita estar a contribuir para aliviar o sofrimento das vitimas, quando de facto o que faz é criar novas vitimas.
Naturalmente os comportamentos e acções violentas centrados no receptor são exercidos por todas as pessoas cujo objectivo é mudar o comportamento alheio. Assim, além da propaganda e acção politica, também as actividades comerciais dirigidas ao consumo e as activistas relacionadas com os direitos das vitimas, são uma forma de violência, já que causam necessidades e insatisfações que de outro modo não seriam sentidas. A análise politica da violencia resulta de as analistas serem sempre lideres de movimentos sociais, com o objectivo de atingirem o poder poilitico; assim, elas próprias projectam os seus sentimentos e desejos escondidos de alcaçar o poder, nos emissores de respostas violentas, e desconsideram as outras formas de abordar a violência. Estas pessoas estão também muito habituadas a usar a violência social e pressões de toda a ordem para alcançar a liderança e supremancia e, por isso, apenas consideram o uso da violência, como forma de exercicio de poder sobra a vitima. Usam a violência para combater a violência e entram, assim, num circuito fechado e amplificador dos comportamentos violêntos. De facto, ainda que o estado, como comunidade politicamente organizada, se autolegitime no uso da violência; esta só pode ter a sua expressão quando usada por pessoas. As pessoas que executam a violência organizada do estado contra o cidadão são, elas próprias, violentas.
Não é por a violência, dos grupos organizados em associações, partidos, etc., constantemente propagandeada nos meios de comunicação social, ser praticada com a conivência do estado, que esta deixa de causar dano e sofrimento aos cidadãos, vitimizados. Por outro lado quem, lider de organizações sociais, com a permissão do estado, pratica a violência, sublima a sua atitude agressiva de tal ordem que, acredita estar a contribuir para aliviar o sofrimento das vitimas, quando de facto o que faz é criar novas vitimas.